É sabão

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A menina que via coisas ao contrário.

Capitulo 1 – Sonhos também falam.

Antônia olhou para o lado, eram três da manhã, o crepúsculo iluminava seu quarto como uma lanterna fulminante, respirou fundo, e apenas olhava para a porta do seu guarda roupa semi-aberta, estava cansada de programar sua vida, então pegou um relógio antigo e desligou o alarme se virou para cima e adormeceu.
A claridade resgatava as miseras pontas de sombra do ambiente, as árvores cantavam com os próprios movimentos, como se fosse um balé e cada galho fosse uma sapatilha, o presente parecia congelar-se junto com o passado e o futuro, o vento soprava forte, e apesar do sol clarear, o ambiente estava frio Antônia olhava para os lados, procurando algum caminho a seguir, mas naquele momento, ela não se importou muito aonde ir, esfregando as mãos como se estivesse se livrando de algo muito pegajoso e seus cabelos louros e crespos esvoaçavam pelos traços de sua testa, como se estivessem querendo dançar e acompanhar o vento, o cheiro da maresia dominou o ambiente como um perfume muito forte de dama da noite, ela se sentou ao pé de uma árvore seca e ficou por muito tempo olhando as pequenas formigas levarem a gigantesca folha em suas costas até o formigueiro, a vontade de ajudar as formigas dominou Antônia por alguns minutos, porém ela desistiu, quando chegou a conclusão que as formigas iriam se ofender com a moleza que iriam levar, o que fez a menina sorrir. Encostando as costas no tronco, imaginando como chegara ali, nunca havia visto um lugar tão bonito, porém ficou aborrecida pelo detalhe de não aparecer ninguém para lhe fazer uma visita, seja lá quem fosse, deveria vir, estava um dia ótimo para visitas, isso ela já tinha presumido, olhava em volta novamente e resolveu deixar as formigas para dar uma olhada no local.
- Olá, tem alguém por aqui? – Disse ela calmamente, como se fosse a coisa mais obvia do mundo alguém aparecer do céu, apenas para lhe responder, porém ninguém respondeu, e o silencio predominava o local como farpas bem afiadas, ela se arrepiou quando o vento jogou seus cabelos para trás, esfregando os braços, e continuando a andar e começando a conversar com ela mesma já que era a única companhia. – Oras, como será que dou o fora deste lugar vazio? Deve haver um lugar, por onde eu cheguei, bem, não me lembro de chegar aqui, isto é um problema, calma Antônia, eu resolvo, apenas achar uma porta, é uma porta, bem, onde é que ira ter uma porta por aqui? Afinal, chatinho esse lugar.
Cansada, sentou-se na grama verde, e logo em seguida abaixou a coluna, deitando no macio chão de folhas, pensava, pensava, porém nenhum pensamento muito favorável lhe cabia, olhou diretamente para o sol e fechou os olhos com a claridade, espreguiçou-se no chão, e sentiu uma imensa vontade de cantarolar a toa, levantou-se em um pulo, e uma sensação que por sinal muito boa veio nela, e Antônia começou a dançar e cantarolar alto, no meio da grama verde como se nada no mundo pudesse fazer ela parar, resgatou do fundo do bolso um papel e uma caneta e começou a rabiscar como se tudo aquilo que estava sentindo fosse uma brisa suave na imensidão do espaço, o frio já tinha esplandecido junto as folhas que voavam para longe, ela sentiu que tudo estava escuro, como se ela pudesse ver ao invés de escuro, via claro, estava noite, mas para ela estava muito claro, tudo, como se a Lua fosse o Sol, e o vento fosse a brisa do amanhecer.
- É obvio. Por isso que não tem ninguém aqui, agora é noite, e não se sai a noite, afinal, as pessoas não podem enxergar no escuro, por isso o temem. – Terminou ela a frase como se tudo fizesse sentido agora, como se fosse uma coisa estúpida. Então Antônia tornou a fechar os olhos, com uma seriedade no respirar, como se ela temesse o escuro que agora era claro, abriu os olhos de impaciência e tornou a andar, só que desta vez andava em zigue-zague, e sempre voltava para o mesmo lugar, olhou em volta como se necessitasse de um sinal, mero que fosse, ela sabia que o entenderia, viu uma linha de pedrinhas, esperançosa começou a segui-las como se fosse a coisa mais interessante que já fez a vida inteira, andou, andou, e quando as pedrinhas acabaram davam-se para um vão em uma rocha, uma mera abertura no meio de pedras gigantescas.
- Ahá! Uma porta. – Ela sorriu, olhou para o céu que estava azul claro, não ousou em olhar para o Sol novamente, de tão claro, olhou para o vão, entrou sem se virar para trás, como a certeza que era ali que tivesse que ir fosse clara tanto quando o Sol que acabara de fugir, porém, no buraco, era muito claro também, como se o sol a seguisse iluminando o caminho, nada havia lá dentro, era uma caverna, só que não havia nada além de um lago azul, e pedras, nenhum animal, inseto, morcego ou coisa parecida então ela foi andando, em volta do lago, procurando uma outra entrada, porém nada via, caminhou por um bom tempo em volta do lago, e a imensa luz a acompanhava, depois de muito tempo, via o sol abaixando sua luz, como se fosse um pôr-do-sol dentro da própria caverna, distraída, virou-se para o lado, escorregou na beira do lado e caiu dentro da água gelada e azulada o lado não dava pé para ela, olhou para cima, quase não via mais o sol e alguma coisa a puxou para baixo.

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