É sabão

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Cresce menina.

Hoje eu me sinto renovada, da podridão que me angustiava, hoje eu sinto que posso me salvar.
Hoje eu me sinto leve, um leve desespero de não ser do modo que eu estava sendo, um modo medíocre perante as coisas colocadas ao meu redor. Hoje eu vi ao invés de um corredor, um quintal.
Só de ver o tom que falava comigo ao telefone, ao sorrir quando me viu.
Minha querida, a ultima coisa que eu quero é te fazer sofrer. Pelas brigas e erros incontroláveis que eu fiz à você. Peço perdão. Me desculpe por ser assim, minha roda gigante que parece tão mais gigantesca agora. Meu exemplo, minha missão. Meu modo de pensar, de agir.
Minha rainha, meus penares e temores. Meus amores e anseios. Me desculpe pela forma que eu ando sendo.
Te amo minha mãe, de todo a raiva e suavidade acumulada no mundo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Benjamin.

Raiou o Sol, você é cegado pela luz que te dá a vida.
Um sopro para mudar todo rumo dos séculos...
Um dia você conhece alguém que aprendeu com outro
alguém qual é o sentido ou se não há sentido algum.
Você respira. Grita. Inflama. Você brota.
E simplesmente aprende que pelo resto da vida
você irá aprender e esquecer, idas e vindas.
E por fim, ira entender que nada se
esvaia ou some por completo.
Entende que é diferente e que nunca terá
o mesmo ponto alfa que outro alguém.
Pessoas passam por você, simplesmente passam.
É nesta hora que você sorri, abraça a vida e gargalha.
Oportunidades mudam tudo, mesmo que você não
as aproveite, riscos entendem seus medos,
mas será que o amor entende seus riscos?
Criar teoremas faz parte da explicação do nascimento
e também da morte, subitamente escondida na terra.
Sonhar também é escutar os sons das milhares
de vidas ao seu redor. E neste momento você observa
as luzes que ascendem e se apagam, o tempo todo.
As vozes nunca param para aqueles que
se entregam exageradamente. Uma constelação se
despindo por sorrisos, será?
E neste instante tem alguém se preparando
para morrer, ou simplesmente renascer.
Você ama e sofre, chora de alegria,
ri de desapontamento.
Você busca, o tempo todo.

They walked in Line.

BUM, a bomba estourou em volta de todos vocês, ninguém sabe controlar essa juventude sem limites. BUM BUM, estão começando a bater os pés, não sabem quando vão parar, oh-oh-oh, olha pára todas essas luzes que deixam a noite mais clara, ninguém sabe por onde começar... Todos reclamam por não ter direito algum mas acham de boa se apossar do direito dos outros. OH-OH, as luzes ascendem um túnel sem saída, você pode me ajudar a sair? BUM BUM BUM, ligaram o som, da para ouvir de qualquer lugar, todos estão ouvindo o novo hit pop, o que você está vendo na verdade é apenas uma imagem padronizada daquilo que querem que você veja, mas calma, não tem problema nenhum em ser padronizado, é apenas um novo jeito de dizer que você não se importa em ser mais um no meio do milhão. Tudo bem, eles vão te acobertar, é só ter um pouco mais de dinheiro que a maioria, você ficará a salvo com o poder de manipulação braçal. EH-EH você não consegue mais respirar, ficara girando no espaço, sem novas expectativas e tudo que você acreditou um dia se perderá, perderá a noção e tamanha importância para o seu conhecimento interno. Nada faz diferença agora, só não se esqueça de colocar óleo para sua engrenagem não falhar.

"Mulher , crie juízo, mostre os dentes com um sorriso"

Foi lá na mesa do seu joão, foi sim, eu a vi
dançando, e remexendo nas cadeiras, eu vi
a menina que causava inveja nas morenas
foi lá na estação, eu corri com ela, desprovida
de barreiras, foi sim, eu vi, e passei que nem
um furacão. Foi lá na praça que eu cantei uma
música para ela, apresentei um novo tipo de
samba, e lá na central da roda, lhe dei uma
rosa, apontei para a lua, e lhe prometi que não
ia lhe esquecer mais não.

Floreia, amor, floreia.

Se lembrar de lembrar muito mais,
mais vezes que eu não pude me esquecer de lembrar
as chances que eu tive de esquecer,
esquecer as lembranças vagas, pasageiras.
Assopra o bolo que te assombra, promete, pede,
pede cuidado menino, pede compaixão,
pede com carinho, de mansinho vai chegando
perto ao meu coração, se lembre de esquecer
as memórias inconfessáveis, até mesmo para você.
Suba no topo de uma árvore e contemple o leve
suspiro do desejo de ser um pouco mais do
que recordações em porta-retratos, se lembre.

Não se importa muito.

Não importa a forma oportuna que se forma diante de mim.
Já não se nota o tom da nota que desce pela minha garganta arranha gato. A porta se fechou pela brecha que me fez se perder por ai. A madrugadas dos embriagados da esquina é a vida se formando por uma metafórica teoria. A vida não é justa e nem se faz jus ao que lhe convém. Não tem por onde voltar. Gire a corda que te corta pelo movimento, criando conceitos até já não saber mais quem eu sou, hoje eu me perdi, perdi o movimento robótico que transforma algo que te libera em opressão. Irreal. Acorda bamba de algum sem equilíbrio e a ansiedade que satisfaz o morto vivo. Certas vezes se ama, ama essa vida cruel e desesperada de lutos e anseios que nos rodeia a cada suspiro.
Na imagem deformada de minha memória eu fui única, apenas para mim.
A multidão de claustrofóbicos enfurecidos perseguindo um mísero pensar. Agora estamos pensando com o coração, amando apenas com um leve desespero dentro de si.
Decadências não assustam, elas multiplicam a abertura em série dos cabimentos sem anseio. Eu fui a luta para descobrir algo que jamais vi, a luz que não funciona de noite, a sim, a noite, ela mostra em quem você realmente se transforma, ela habita sua mente inalando suas idéias igualadas. Hoje eu já não me arrependo do que eu fiz e se fiz algo que me arrependo eu apenas aceito a vaga idéia transformista de explicação, não a caminhos para lugar nenhum e sim lugares nenhuns que te levam para caminhos.
Pouco me importa, que música a vida me propõe, eu apenas danço, girando, girando, sem parar. No meu corpo tem duas mil vozes berrando e só agora eu consigo ouvir mais de uma claramente, eu não sei para onde elas me levam, mas até agora eu as desejo até o fim.

Minha alma não tem título.

- Que soltem os marinheiros, as aventuras inacreditáveis, os poetas enclausurados, as feiticeiras mais reprimidas, os fantasmas das óperas, criaturas mágicas, e encantamentos antigos, soltem todos, e não os reprima, por ser do jeito que eu sou, pelo meu jeito de criar fantasias, e de "soltar a boca no trombone", por gostar de rir um monte, e encher meu álbum de fotos, por ser sincera, e odiar mentiras, eles me entendem, os tesouros dos mares, eles não se escondem atoa, tem que ter coragem, para os encontrá-los, amantes não sofrem atoa, eles gostam do sabor da conquista, quer dizer, estou os citando, contando um pouco da minha fantasia, criando histórias, e ouvindo uma melodia que talvez nem a mim entendam, isto é, não peço para me entenderem, apenas acompanhem, as insanidades profundas, queria poder lhes dizer, que tudo que virá será para a vida boa, a lição medíocre, que o sistema impõe, bem deixe-as para lá, não me importa no momento, criar, fantasiar, adoro, chamar atenção, admito que me atrae, mas não é preciso citar que é melhor para lhes chamar atenção, jeito insignificante, é muito mais divertido pendurar uma melancia no pescoço, isso torna-o mais interessante. Acredito muito em astrologia, e nas "artes" da vida, sair da rotina, me atrae muito, e sonhar, sonhar, com tudo. -

Capitulo 3 – Tentativa de fuga.

Antônia já entrara no carro, saindo do prédio da Sra Carvalho, entrou no carro, com seu desenho em mãos, olhou para ele durante algum tempo, e não entendia muito bem o que estava acontecendo, cansada de achar respostas, voltou para casa, mas Rafaella não estava mais lá, tudo estava escuro, então ela ascendeu algumas luzes, subiu para seu quarto, onde se estendeu na cama, olhou o relógio, marcava 4 da tarde, e estava super escuro.
Um tempo depois ela apanhou o telefone.
- Alô, Fabi? É a Antônia, então queria saber se vai dar para você sair hoje, vai? A sim, então vem para cá umas dez, ai vamos, ok, beijos.
Antônia cantarolava baixinho, como uma flauta doce, pensou em rasgar o desenho, porém, algo a impossibilitava de fazer aquilo, é como se aquele papel fosse parte dela agora, como assim o contrário de tudo? Isto é possível. Bem seja lá o que for, ela não via muitas coisas ao avesso, e mesmo assim, já estava apavorada, mas ao mesmo tempo, intrigada e curiosa.
O tempo foi passando, no relógio, marcava dez para seis, e Antônia estava lendo um livro de Machado de Assis, memórias póstumas de Brás Cubas, quando, pausou e olhou para a janela, a Lua estava como um pôr-do-sol e sumia no horizonte, a menina olhou aquilo por um bom tempo, até se levantar e se sentar na janela, a Lua se foi, e logo em seguida aparecia o imenso sol, radiante, enorme, que ofuscou os olhos de Antônia, fazendo ela os tampar com a mão, era a coisa mais incrível e bizarra que ela já imaginara.
Ela ficou observando as luzes ascenderem no claro e até observou uma janela que havia uma mulher de cabelos vermelhos dançando sozinha, ela se movia lentamente como se ela fizesse parte do que ouvia, o que fez Antônia sorrir.
Era sexta-feira e ventava muito, o céu estava aberto.
Antônia vestiu um casaco por cima de sua blusa amassada, desceu as escadas lentamente até chegar no hall da casa onde viu Rafaella dormindo com linhas e blusas sobre o colo, ela saiu silenciosamente da casa. Caminhando pelas ruas apenas com o pedaço de papel na mão, o mesmo desenho, ela retirou seu maço de cigarros do bolso e ascendeu um, continuou a andar sem rumo. Observava as pessoas a sua volta como um senhor que procurava algo no chão, porém nada havia, ou uma mulher chorando ao pé de um orelhão com os olhos borrados, ou homens fumando que nem porcos com putas de mini saia e batom vermelho em sua volta. Então ela continuou a andar, tragando do seu cigarro e sentindo o vento bater no rosto.
- Com licença. – Antônia tragou seu cigarro e se se virou lentamente, olhando para um rapaz alto de cabelos mal cuidados, então, ela soltou a fumaça, fixamente olhando para ele. – Olá, eu queria saber como eu vou para o metrô mais perto daqui, a senhorita sabe?
Ela continuou parada depois sorriu.
- Eu vou passar na frente de um, quer me acompanhar?
Antônia não era muito de mostrar seu lado romântico, ela era conquistadora, sabia jogar, mas quando viu aquele rapaz na sua frente sentiu algo estranho, enfim.
- Adoraria. Chico, meu nome é Chico.
Ela apenas olhou para ele, acenou com a cabeça e começou a andar.
- E o seu? Como se chama? – Ele continuou.
- Antônia. – Falou ela terminando seu cigarro.
- Muito prazer. – Mas acontece que Chico era o típico rapaz romântico que se apaixonava fácil por garotas que estavam a sua volta, ele era tímido, havia acabado de chegar na cidade e não sabia muitas coisas da vida. – Para onde a senhorita disse que ia mesmo?
- Eu não disse.
- Ah, certo. – Então ela sorriu e ele ficou meio sem jeito.
Então ela parou.
- Certo, por que paramos? – Então ela levantou a sobrancelha e olhou para o lado, lá estava a entrada para o metrô. – Ah, certo. Bem adeus.
- Adeus. – Ela se virou e simplesmente foi embora, com a imensa vontade de rever aquele rapaz.
Nove horas, ela estava em casa, sentada no seu jardim desenhando uma flor quando seu celular tocou.
- Alô. Oi Fabi, a sim vamos, as onze? Ok. Está ótimo. Tchau.
Ela se arrumou, tomou um longo banho, colocou um vestido solto, soltou os longos cabelos cacheados passou um lápis preto nos olhos e ficou se olhando no espelho, imaginando aquela situação de coisas ao contrário, pensou como seria o outro lado do espelho e como seria ver literalmente tudo às avessas. Então ela desceu e foi para frente de casa esperar o táxi, olhou para cima e viu tudo claro.
Chegando ao lugar, era uma mega festa, com um som alto e pouca luz, mas para Antônia tudo estava bem claro e visível.
Depois de algumas doses a mais, ela já estava solta na pista de dança, onde fazia parte da música.
- Cara olha aquela garota.
- Acho que já a vi em algum lugar.
- Onde, cara?
- Não sei, se ela mostrasse o rosto.
- Vamos lá.
Dois rapazes, ambos curiosos por saber quem era Antônia e um deles já a conheciam, Chico e Gabriel se aproximaram de Antônia, dançando. Porém ela não ligou, continuou dançando.
- Eu a conheço ela, cara.
- Conhece? De onde?
Então ele parou e ficou observando ela dançar, ela não parava e cada vez mais se envolvia na melodia.
- Eu a conheço da vida. – E ele a cutucou por trás, fazendo ela se virar, os dois ficaram se olhando por alguns segundos.
- E ai? – Ele balançou a cabeça.
- Oi. – Ela continuou olhando para ele.
- Quer beber alguma coisa? – Ele perguntou.
- Na verdade, não. – E mais uma vez o alto rapaz, de cabelos mal cuidados ficou sem graça.
Já era 3 da manhã e o céu para Antônia já estava menos claro, outra vez ele ficaria escuro enquanto as pessoas o viam claro.
- Está bem, me ligue. – Ele pegou um papel e anotou o numero dele, esticando o papel para ela, que o pegou e jogou dentro da bolsa dando as costas para Chico.
- Uou, cara, o que foi isso? Parece que se deu mal na cantada. – E Gabriel caiu no riso.
- Eu nunca vi, ela simplesmente chega na minha vida e some, isso duas vezes no mesmo dia.
Antônia saiu da festa a começou a andar, meio tonta pela bebida ela se deitou no banco de uma praça e olhava para o céu mudando de cor, ficou lá até o céu escurecer por total, quando viu que já eram seis da manhã e ficara a madrugada toda em uma praça. Ela se levantou, estava calmo ela começou a andar sob um meio fio de uma calçada, então Antônia parou meio assustada, havia uma arvore a frente dela só que em cima ao invés de galhos e folhas eram raízes e em baixo haviam folhas e galhos, era uma imagem bizarra de se ver, ao andar mais um pouco todas as arvores que passavam por ela estavam iguais. Antônia passou a mão no rosto uma porção de vezes seguidas e as imagens estavam do mesmo jeito.
Caminhou por algum tempo até achar um táxi funcionando àquela hora, chegando em casa se jogando na cama como mármore.

Capitulo 2 – Critérios dos Críticos.

Antônia levantou-se em um pulo, como se tivesse afogado em suas próprias palavras, pois tentou soltar um berro, e não conseguiu olhando em volta e reconheceu seu quarto com a porta do armário semi-aberta e suas roupas e pilhas de livros jogados a beira da cama, sentou-se analisando seu próprio corpo com os dedos, meio assustada, olhou pela janela, estava tudo escuro, com a Lua cheia rodeada de estrelas.
- Antônia, ta acordada? – Falou uma voz feminina, que acompanhou com batidas levianas na porta. – Tônica, Bom dia.
- Entra. – Respondeu ainda analisando o seu redor, com uma certa curiosidade, e a porta se abriu, a mulher sorriu.
- Bom dia dorminhoca, já esta tarde, esqueceu que tens um compromisso? Antônia olhou para a mulher alta de cabelos lisos e castanhos, olhou para a janela.
- Bom dia? Mas está escuro. – Disse ela olhando para fora, vendo tudo negro.
- Escuro meu bem? Oras acho que alguém andou acordada a madrugada inteira. Aiai, Tônica, você não toma jeito.
- Rafaella, está escuro. Ainda não amanheceu, estou vendo o céu, ele está escuro. A mulher sorriu, olhou para Antônia abriu a boca, porém tornou a fechá-la. – Volte a dormir Rafaella, você está ficando maluca.
Antônia sem dizer uma palavra ficou indignada, levantou-se da cama, e despiu-se da roupa que estava vestindo, meio incrédula e imóvel, olhou para Rafaella que recolhia roupas jogadas no chão, se virou novamente, e foi para o chuveiro, enquanto deixava a água cair sob os cabelos, ficou pensando no que acontecera nas ultimas horas, e não conseguia ligar bem, se tudo que vira era realidade, ou fantasia. Tomou seu banho, se trocou, e desceu as escadas de sua casa, sem pregar o olho da janela, como se aquilo não fizesse o menor sentido. Como poderia? Se for dia, como poderia estar escuro, e se lembrou da caverna, com a imensa luz, com o Sol a seguindo, aonde era escuro, meio atormentada, sentou-se na mesa da cozinha, pegou uma maça e começou a mordê-la à toa. Tomada de curiosidades, foi interrompida por Rafaella, que trazia um saco plástico com alguns pertences dentro.
- Seja boa com eles, e vê se volta ao normal, eles vão achar você maluca. – Disse a mulher, franzindo o nariz, soltando uma gargalhada.
- Como se isso fosse muito difícil. – E as duas tornaram a rir, quando uma buzina aguda veio da frente. – Bem deve ser o Eduardo, bem, vou indo, até. - E Antônia, atravessou o jardim na escuridão, indo até o carro parado na frente do portão, entrou, colocando um papel sob o colo, e rabiscando a toa.
Depois de algum tempo, quando o carro parou na frente de um edifício, Antônia saiu do carro, entrando no prédio de mármore branco, passando pela portaria, e subindo pelo elevador, chegou ao destino, tocando suavemente a campainha, e vendo a porta se abrir, era uma senhora, curva já, cabelos roxos e um chalê cor púrpura.
- Bom Dia senhorita. – Disse a mulher sorrindo, e curvando-se, para arrumar as botas tortas, porém nada adiantou as botas estavam mais tortas do que antes e Antônia se segurou para não soltar um riso, pegando os óculos da bolsa, e colocando-os no rosto, tornando a sorrir para a senhora curva.
- Bom...- olhou para a janela, viu tudo escuro, e pensou em Rafaella falando, seja boa com eles, vão pensar que é maluca.- Bom dia senhora Carvalho. – E sorriu no final, como se nada acontecesse.
- A senhorita queria se candidatar ao emprego, certo? O que traz uma mocinha como você a esse tipo de emprego, quero dizer, jovens preferem a parte mais social, fofocas, e manchetes, aqui é mais rock N roll, devo lhe informar, que é preciso ter disposição, e muita imaginação. Sra Carvalho olhou para Antônia, virou-se de costas, pegando alguns papéis amassados, e voltou para o sofá, sentou-se ao lado da menina.
– Olhe está imagem, Srta. é muito antiga, e passou de gerações, até chegar até mim. – E ela virou o papel, mostrando uma figura dividida ao meio, de um lado dia e de outro noite, porém no lado do dia, mostrava-se a Lua, e da noite, mostrava-se o Sol, Antônia olhou para a senhora sentada a sua frente, com cabelos roxos e um chalê púrpura gasto, tentando disfarçar a indignação, como era possível ela saber? Com absoluta certeza, ela sabia, e se não soubesse? Melhor fingir que não reconheço a foto.
- Que interessante imagem, o que significa? - Falou ela, disfarçando a curiosidade.
- Significa que a pessoa que contiver esse dom verá tudo ao seu lado ao contrário.
- Tudo? Disse Antônia aliviada, ela não via tudo ao contrário, só os dias e noites, e ficou mais relaxada.
- Sim, tudo, no começo, começa com a troca do dia para a noite, e depois vai se aguçando as percepções, estou vendo que teve uma certa curiosidade nisso, sim?
- Sim senhora, é um assunto bem interessante, conhece alguém que tenha esse dom?
- Apenas uma pessoa depois de mim. – ela olhou para a menina, jogou o cabelo para trás. – Estou com ela nesse momento.
- Como a senhora sabe? Disse ela olhando fixamente para o olho da senhora Carvalho, sem ao menos piscar.
- A senhorita deixou cair isto. – E ela estendeu a mão para um papel em cima da mesa, desdobrando. – Se não me engano, estava desenhando no carro, e o enfiou no bolso, certo? Disse ela estendendo o papel a Antônia, e a menina pegou a folha que estava rabiscando no carro, e viu, um desenho igual ao que a mulher tinha acabado de mostrar, a diferença é que o dela estava sem cores e um pouco mal desenhado.
- Como é possível, eu desenhei sem saber, isto é algum tipo de maldição?
- Não minha querida, é um dom. Alias, está contratada, comece na segunda, mas não se esqueça, de dia se tens a Lua, e de noite se tens o Sol, adeus. – E ela saiu entrando no corredor

A menina que via coisas ao contrário.

Capitulo 1 – Sonhos também falam.

Antônia olhou para o lado, eram três da manhã, o crepúsculo iluminava seu quarto como uma lanterna fulminante, respirou fundo, e apenas olhava para a porta do seu guarda roupa semi-aberta, estava cansada de programar sua vida, então pegou um relógio antigo e desligou o alarme se virou para cima e adormeceu.
A claridade resgatava as miseras pontas de sombra do ambiente, as árvores cantavam com os próprios movimentos, como se fosse um balé e cada galho fosse uma sapatilha, o presente parecia congelar-se junto com o passado e o futuro, o vento soprava forte, e apesar do sol clarear, o ambiente estava frio Antônia olhava para os lados, procurando algum caminho a seguir, mas naquele momento, ela não se importou muito aonde ir, esfregando as mãos como se estivesse se livrando de algo muito pegajoso e seus cabelos louros e crespos esvoaçavam pelos traços de sua testa, como se estivessem querendo dançar e acompanhar o vento, o cheiro da maresia dominou o ambiente como um perfume muito forte de dama da noite, ela se sentou ao pé de uma árvore seca e ficou por muito tempo olhando as pequenas formigas levarem a gigantesca folha em suas costas até o formigueiro, a vontade de ajudar as formigas dominou Antônia por alguns minutos, porém ela desistiu, quando chegou a conclusão que as formigas iriam se ofender com a moleza que iriam levar, o que fez a menina sorrir. Encostando as costas no tronco, imaginando como chegara ali, nunca havia visto um lugar tão bonito, porém ficou aborrecida pelo detalhe de não aparecer ninguém para lhe fazer uma visita, seja lá quem fosse, deveria vir, estava um dia ótimo para visitas, isso ela já tinha presumido, olhava em volta novamente e resolveu deixar as formigas para dar uma olhada no local.
- Olá, tem alguém por aqui? – Disse ela calmamente, como se fosse a coisa mais obvia do mundo alguém aparecer do céu, apenas para lhe responder, porém ninguém respondeu, e o silencio predominava o local como farpas bem afiadas, ela se arrepiou quando o vento jogou seus cabelos para trás, esfregando os braços, e continuando a andar e começando a conversar com ela mesma já que era a única companhia. – Oras, como será que dou o fora deste lugar vazio? Deve haver um lugar, por onde eu cheguei, bem, não me lembro de chegar aqui, isto é um problema, calma Antônia, eu resolvo, apenas achar uma porta, é uma porta, bem, onde é que ira ter uma porta por aqui? Afinal, chatinho esse lugar.
Cansada, sentou-se na grama verde, e logo em seguida abaixou a coluna, deitando no macio chão de folhas, pensava, pensava, porém nenhum pensamento muito favorável lhe cabia, olhou diretamente para o sol e fechou os olhos com a claridade, espreguiçou-se no chão, e sentiu uma imensa vontade de cantarolar a toa, levantou-se em um pulo, e uma sensação que por sinal muito boa veio nela, e Antônia começou a dançar e cantarolar alto, no meio da grama verde como se nada no mundo pudesse fazer ela parar, resgatou do fundo do bolso um papel e uma caneta e começou a rabiscar como se tudo aquilo que estava sentindo fosse uma brisa suave na imensidão do espaço, o frio já tinha esplandecido junto as folhas que voavam para longe, ela sentiu que tudo estava escuro, como se ela pudesse ver ao invés de escuro, via claro, estava noite, mas para ela estava muito claro, tudo, como se a Lua fosse o Sol, e o vento fosse a brisa do amanhecer.
- É obvio. Por isso que não tem ninguém aqui, agora é noite, e não se sai a noite, afinal, as pessoas não podem enxergar no escuro, por isso o temem. – Terminou ela a frase como se tudo fizesse sentido agora, como se fosse uma coisa estúpida. Então Antônia tornou a fechar os olhos, com uma seriedade no respirar, como se ela temesse o escuro que agora era claro, abriu os olhos de impaciência e tornou a andar, só que desta vez andava em zigue-zague, e sempre voltava para o mesmo lugar, olhou em volta como se necessitasse de um sinal, mero que fosse, ela sabia que o entenderia, viu uma linha de pedrinhas, esperançosa começou a segui-las como se fosse a coisa mais interessante que já fez a vida inteira, andou, andou, e quando as pedrinhas acabaram davam-se para um vão em uma rocha, uma mera abertura no meio de pedras gigantescas.
- Ahá! Uma porta. – Ela sorriu, olhou para o céu que estava azul claro, não ousou em olhar para o Sol novamente, de tão claro, olhou para o vão, entrou sem se virar para trás, como a certeza que era ali que tivesse que ir fosse clara tanto quando o Sol que acabara de fugir, porém, no buraco, era muito claro também, como se o sol a seguisse iluminando o caminho, nada havia lá dentro, era uma caverna, só que não havia nada além de um lago azul, e pedras, nenhum animal, inseto, morcego ou coisa parecida então ela foi andando, em volta do lago, procurando uma outra entrada, porém nada via, caminhou por um bom tempo em volta do lago, e a imensa luz a acompanhava, depois de muito tempo, via o sol abaixando sua luz, como se fosse um pôr-do-sol dentro da própria caverna, distraída, virou-se para o lado, escorregou na beira do lado e caiu dentro da água gelada e azulada o lado não dava pé para ela, olhou para cima, quase não via mais o sol e alguma coisa a puxou para baixo.