É sabão

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Capitulo 2 – Critérios dos Críticos.

Antônia levantou-se em um pulo, como se tivesse afogado em suas próprias palavras, pois tentou soltar um berro, e não conseguiu olhando em volta e reconheceu seu quarto com a porta do armário semi-aberta e suas roupas e pilhas de livros jogados a beira da cama, sentou-se analisando seu próprio corpo com os dedos, meio assustada, olhou pela janela, estava tudo escuro, com a Lua cheia rodeada de estrelas.
- Antônia, ta acordada? – Falou uma voz feminina, que acompanhou com batidas levianas na porta. – Tônica, Bom dia.
- Entra. – Respondeu ainda analisando o seu redor, com uma certa curiosidade, e a porta se abriu, a mulher sorriu.
- Bom dia dorminhoca, já esta tarde, esqueceu que tens um compromisso? Antônia olhou para a mulher alta de cabelos lisos e castanhos, olhou para a janela.
- Bom dia? Mas está escuro. – Disse ela olhando para fora, vendo tudo negro.
- Escuro meu bem? Oras acho que alguém andou acordada a madrugada inteira. Aiai, Tônica, você não toma jeito.
- Rafaella, está escuro. Ainda não amanheceu, estou vendo o céu, ele está escuro. A mulher sorriu, olhou para Antônia abriu a boca, porém tornou a fechá-la. – Volte a dormir Rafaella, você está ficando maluca.
Antônia sem dizer uma palavra ficou indignada, levantou-se da cama, e despiu-se da roupa que estava vestindo, meio incrédula e imóvel, olhou para Rafaella que recolhia roupas jogadas no chão, se virou novamente, e foi para o chuveiro, enquanto deixava a água cair sob os cabelos, ficou pensando no que acontecera nas ultimas horas, e não conseguia ligar bem, se tudo que vira era realidade, ou fantasia. Tomou seu banho, se trocou, e desceu as escadas de sua casa, sem pregar o olho da janela, como se aquilo não fizesse o menor sentido. Como poderia? Se for dia, como poderia estar escuro, e se lembrou da caverna, com a imensa luz, com o Sol a seguindo, aonde era escuro, meio atormentada, sentou-se na mesa da cozinha, pegou uma maça e começou a mordê-la à toa. Tomada de curiosidades, foi interrompida por Rafaella, que trazia um saco plástico com alguns pertences dentro.
- Seja boa com eles, e vê se volta ao normal, eles vão achar você maluca. – Disse a mulher, franzindo o nariz, soltando uma gargalhada.
- Como se isso fosse muito difícil. – E as duas tornaram a rir, quando uma buzina aguda veio da frente. – Bem deve ser o Eduardo, bem, vou indo, até. - E Antônia, atravessou o jardim na escuridão, indo até o carro parado na frente do portão, entrou, colocando um papel sob o colo, e rabiscando a toa.
Depois de algum tempo, quando o carro parou na frente de um edifício, Antônia saiu do carro, entrando no prédio de mármore branco, passando pela portaria, e subindo pelo elevador, chegou ao destino, tocando suavemente a campainha, e vendo a porta se abrir, era uma senhora, curva já, cabelos roxos e um chalê cor púrpura.
- Bom Dia senhorita. – Disse a mulher sorrindo, e curvando-se, para arrumar as botas tortas, porém nada adiantou as botas estavam mais tortas do que antes e Antônia se segurou para não soltar um riso, pegando os óculos da bolsa, e colocando-os no rosto, tornando a sorrir para a senhora curva.
- Bom...- olhou para a janela, viu tudo escuro, e pensou em Rafaella falando, seja boa com eles, vão pensar que é maluca.- Bom dia senhora Carvalho. – E sorriu no final, como se nada acontecesse.
- A senhorita queria se candidatar ao emprego, certo? O que traz uma mocinha como você a esse tipo de emprego, quero dizer, jovens preferem a parte mais social, fofocas, e manchetes, aqui é mais rock N roll, devo lhe informar, que é preciso ter disposição, e muita imaginação. Sra Carvalho olhou para Antônia, virou-se de costas, pegando alguns papéis amassados, e voltou para o sofá, sentou-se ao lado da menina.
– Olhe está imagem, Srta. é muito antiga, e passou de gerações, até chegar até mim. – E ela virou o papel, mostrando uma figura dividida ao meio, de um lado dia e de outro noite, porém no lado do dia, mostrava-se a Lua, e da noite, mostrava-se o Sol, Antônia olhou para a senhora sentada a sua frente, com cabelos roxos e um chalê púrpura gasto, tentando disfarçar a indignação, como era possível ela saber? Com absoluta certeza, ela sabia, e se não soubesse? Melhor fingir que não reconheço a foto.
- Que interessante imagem, o que significa? - Falou ela, disfarçando a curiosidade.
- Significa que a pessoa que contiver esse dom verá tudo ao seu lado ao contrário.
- Tudo? Disse Antônia aliviada, ela não via tudo ao contrário, só os dias e noites, e ficou mais relaxada.
- Sim, tudo, no começo, começa com a troca do dia para a noite, e depois vai se aguçando as percepções, estou vendo que teve uma certa curiosidade nisso, sim?
- Sim senhora, é um assunto bem interessante, conhece alguém que tenha esse dom?
- Apenas uma pessoa depois de mim. – ela olhou para a menina, jogou o cabelo para trás. – Estou com ela nesse momento.
- Como a senhora sabe? Disse ela olhando fixamente para o olho da senhora Carvalho, sem ao menos piscar.
- A senhorita deixou cair isto. – E ela estendeu a mão para um papel em cima da mesa, desdobrando. – Se não me engano, estava desenhando no carro, e o enfiou no bolso, certo? Disse ela estendendo o papel a Antônia, e a menina pegou a folha que estava rabiscando no carro, e viu, um desenho igual ao que a mulher tinha acabado de mostrar, a diferença é que o dela estava sem cores e um pouco mal desenhado.
- Como é possível, eu desenhei sem saber, isto é algum tipo de maldição?
- Não minha querida, é um dom. Alias, está contratada, comece na segunda, mas não se esqueça, de dia se tens a Lua, e de noite se tens o Sol, adeus. – E ela saiu entrando no corredor

Nenhum comentário:

Postar um comentário